domingo, 20 de outubro de 2013

BODY WITHOUT SOUL

Tělo bez duše
Realizador: Wiktor Grodecki
Ano:  1996
Pais: Czechoslovakia
Duração: 94 min
Documentário

Um filme de difícil digestão de origem Checa que nunca chegou a ser editado em português. Body Without Soul é um documentário de 1994 sobre jovens rapazes prostitutos da cidade de Praga e que ganham a vida dessa forma. O realizador do documentário, Wiktor Grodecki, entrevista rapazes entre as idades de 14 a 17 anos para indagar sobre as suas vidas particulares e como foram recrutados para o negócio da prostituição. 

O filme também explora as esperanças e receios dos jovens rapazes. Falam-nos dos seus corpos e da alma, dinheiro, da sua orientação sexual, HIV, dos seus sonhos e morte.

Um impressionante documentário que sem receios aborda uma realidade que se esconde por detrás do turismo de Praga. Sem dúvida um documentário que deixou-me transtornado. Trago-vos dois trailers que permitem perceber por inteiro o documentário para quem não queira ver as imagens mais avassaladoras. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

FABULOUS! - The Story of Queer Cinema

Fabulous! 
Ano: 2006
Pais: EUA
Duração: 123 min
Documentário

Durante a maior parte do século passado, imagens de gays e lésbicas da cultura americana eram muito limitadas, estereotipadas e/ou tabu. Hoje em dia as imagens gay estão por todo o lado. Este documentário persegue a emergência do cinema gay, desde os filmes "avant-garde" das décadas de 40 e 50, passando pelos que falavam da SIDA na década de 80, pelo "New Queer Cinema" da década de 90 e chegando até aos mais recentes realizadores da atualidade.
Reflexivo e bem-humorado, esse filme faz uma retrospectiva sobre a temática homossexual no cinema (principalmente independente) norte-americano e sobre como, ao longo de seis décadas, o tema foi se liberando no cinema. 
Desde o início, quando o assunto era mostrado como algo proibido ou uma doença, até os dias de hoje, sendo aceito e premiado. Através de trechos de filmes, este documentário acompanha então seis décadas do cinema gay nos EUA. De "Os Pervertidos" a "O Segredo de Brokeback Mountain", o filme mostra como a homossexualidade era proibida nas telas, o efeito da liberação e a importância deste mercado.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

FILADÉLFIA

PHILADELPHIA
Realizador: Jonathan Demme
Ano: 1993
Pais: EUA
Duração: 125 min

O filme que para muitos da geração dos anos 70 e início dos anos 80 representou o primeiro contacto com o cinema gay na televisão. Philadelphia (Filadélfia em português), filme dirigido por Jonathan Demme, conta a história de um advogado contratado escritório de advocacia de grande prestígio, mas que é demitido após não ter mais como esconder que é um homem homossexual e portador do vírus HIV com o aparecimento dos primeiros sintomas da doença. Enquanto sofre a evolução da AIDS em seu corpo, o advogado luta pela sua dignidade e contra o preconceito ao processar a firma buscando provar que foi demitido exclusivamente por ser gay e portador do vírus letal.

Com a magistral actuação de Tom Hanks como personagem principal, o filme mostra de forma tocante o drama vivido pelos homossexuais portadores do HIV não somente do ponto de vista do estigma social sofrido, mas também em relação à própria convivência com uma doença devastadora para o organismo humano e sem cura. Salientando-se ainda que na época o único tratamento existente era o coquetel de medicamentos AZT que reduzia a multiplicação do vírus no organismo humano, mas não tinha a eficácia dos tratamentos mais actuais.

Deixo-vos um trailer onde é possível ouvir de fundo Maria Callas numa das minhas músicas preferidas, que aliás dá nome a um dos filmes de Paolo Pasolini, apesar da música principal do filme ser precisamente "Philadelphia" de Bruce Springsteen.



segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A RAÍZ DO CORAÇÃO

A RAÍZ DO CORAÇÃO
Realizador: Paulo Rocha
Ano: 2000
Pais: Portugal
Duração: 113 min
Apenas em VHS
(posso emprestar)
  
“Lisboa no futuro ano de 2010, as suas colinas iluminadas pelas luzes das Festas de Santo António, patrono dos namorados e da cidade velha. Catão, um politico nacionalista, carismático e sem escrúpulos, persegue obcecadamente Silva, um jovem travesti algo místico. Certa noite, entretanto Sílvia cruza-se com Vicente, dito “o Corvo”, policia perseguidor de travestis que, disfarçados de Noivas de Santo António, atacam a cidade de Lisboa.”

Paulo Rocha dedicou "A Raiz do Coração" aos realizadores Jean Renoir e Federico Fellini, sendo também uma homenagem à cidade de Lisboa. Depois de "O Rio do Ouro" (1998), filmado no Norte do país, Lisboa é agora a personagem principal. Em tom de fábula urbana, o filme, que decorre em 2010, mostra uma cidade futurista, mágica e colorida, virada para o futuro mas ao mesmo tempo enraizada no passado. Lisboa das marchas populares, das noites quentes de Verão, do Castelo de São Jorge, dos miradouros e da Expo 98.

"A Raiz do Coração" é, além disso, uma sátira sobre o poder, onde os corvos representam a má-língua do povo da cidade. Uma noite, durante as festas de Santo António, um grupo de travestis - trajados de noivas virginais -,decide descer à rua para participar nas marchas da cidade, parodiando a moral e os bons costumes. Um dos travestis, uma noiva de máscara negra, começa a gritar, desafiando um homem a arrancar-lhe a raiz do coração. Uns minutos depois, um falso Santo António apela aos valores antigos e à cidade dos velhos tempos. Luís Miguel Cintra ("Palavra e Utopia") desempenha quatro papéis: o do falso Santo António, o do verdadeiro Santo António, o de um travesti negro e a personagem de Catão, um homem carismático e sem escrúpulos, candidato à presidência da Câmara de Lisboa por um partido de extrema-direita. Catão é obcecado por Sílvia, que nasceu Silvio.

Um dos mais abismais filmes de todo o cinema português. O rigor formal, a beleza dos planos-sequência, a formidável elegância de um cineasta que se expõe e ergue um filme desarmante. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

LUIS II DA BAVIERA

LUDWIG II 
Realizador: Luchino Visconti
Ano: 1972
Pais: Itália
Duração: 235 min

Ludwig, um épico deslumbrante sobre o lendário "rei louco" da Baviera, que entrou para a história por construir os castelos mais lindos da Europa, e como o mecenas do compositor Richard Wagner. No elenco, grandes interpretações de Helmut Berger e Romy Schneider, revivendo o papel de Sissi. 

Como se "O Leopardo" e "Morte em Veneza" não bastassem para imortalizá-lo, Visconti quis fazer um grande épico, um longo filme histórico onde pudesse exagerar no guarda-roupa, nos cenários, nos actores. O filme retrata o reinado de Luís II desde a coroação até ao suicídio do rei, um dia após ter sido deposto. Berger dá vida ao sonho e à loucura. Ao longo das quase 4 horas que o filme dura, vemos Ludwig transformar-se, vemo-lo esbanjar dinheiro nas óperas de Wagner, alhear-se dos assuntos de Estado e mergulhar nos megalómanos projectos para a construção dos seus famosos castelos.

Ludwig vive num sonho em permanência? Persegue ele uma verdade invisível? A loucura instala-se. Ludwig isola-se. Ei-lo em Neuschwanstein, onde as festas que são quase orgias! Ele é o rei. Se-lo-á até ao fim, porque não poderá existir para além disso. Quando Luitpold aceita ser príncipe-regente e Ludwig é deposto já pouco há a fazer. O destino é a morte.

A 13 de Junho de 1886 Ludwig afoga-se no lago Starnberg, perto de Munique, na companhia do seu psiquiatra. O filme foi também uma espécie de fim para Visconti. Pouco tempo após as filmagens de Ludwig terminarem sofreu um grave acidente vascular cerebral que o deixou parcialmente paralisado. O fim estava próximo. Ludwig foi para ele um filme doloroso. Como se quisesse o próprio Visconti entender o enigma desse rei invadido pela loucura e incompreendido por todos. Ludwig não poderia existir sem o trono. Ludwig existia para ser rei de um país inventado, nos seus castelos de sonho, preenchidos por música e poesia, por delírios e fantasias. Ludwig não era deste mundo e isso não é difícil de perceber.

Visceralmente misógino, Ludwig resistiu a todos os projectos de casamento que lhe foram apresentados, apenas aceitando o noivado com sua prima a princesa Sophie (Duquesa na Baviera) e irmã mais nova da imperatriz Elisabeth (Sissi), mulher de Francisco José. Os esponsais foram sucessivamente adiados, até que Ludwig decidiu cancelar o casamento pouco tempo antes da data prevista para a sua realização. Sendo homossexual mas também católico devoto, presume-se que na sua adolescência o rei se tenha satisfeito com o convívio (social) de jovens, especialmente das classes populares, só tendo passado a vias de facto numa idade já adulta.

nota: alguns excertos são  de Gonçalo Figueiredo Augusto. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ANGELIC CONVERSATION


Realizador: Derek Jarman
Ano: 1985
Pais: UK
Duração: 78 min


Mais um filme de Dereck Jarman. Williamson e Reynolds são dois jovens em busca do amor. Caminhando por um cenário onírico numa velha mansão elizabetana no interior da Inglaterra, os dois se atraem e se repelem em diversas situações afectivas. Olham-se em espelhos, lutam, fazem amor, ouvem a batida do relógio marcar a passagem do tempo. Do lado de fora da mansão, passeiam por jardins, por uma praia rochosa, banham-se num rio, colhem flores. Todas suas acções são pontuadas por uma doce voz feminina, que recita catorze dos sonetos mais famosos de William Shakespeare. Versando sobre o amor, eles intuem uma forte carga homo-erótica.

Dereck, foi pintor, cineasta, cenógrafo, escritor e jardineiro. Ele se envolveu com o cinema através do trabalho como cenógrafo, primeiro no palco (no Royal Ballet e no Coliseum) e depois em produções de Ken Russel para o cinema. Em 1970, começou a filmar seus próprios filmes em super 8, mas só lançou seu primeiro filme em 1975, Sebastiane. A lenta e dolorosa gestação de seus projectos futuros contrasta com sua imagem como improvisador, apesar de tal característica ser evocada, mesmo que relativamente, em filmes como Angelic Conversation, The Last of England The Garden.

Os temas recorrentes de sua obra são o processo criativo e o papel do artista como catalisador de impulsos “proibidos”; a miséria num país impregnado pelo individualismo; o questionamento de qualquer moral absoluta, assim como o poder perverso da mídia de massa; a reinterpretação de mitos históricos; a desconstrução do cenário ao seu redor, e logicamente, o pensamento homossexual, expresso principalmente nas figuras históricas que representava, como Caravaggio, Sebastiane Edward II.

Morre em 1994, em consequência de complicações decorrentes da AIDS, logo ao completar os filmes Blue, um filme monocromático sem imagens, e Glitterbug, uma montagem de seus vários filmes feitos em super 8.

Angelic Conversation é mais um dos difíceis filmes de Jarman.