- VOOR EEN VERLOREN SOLDAAT
- Realizador: Roeland Kerbosch
- Ano: 1992
- Pais: Holanda
- Duração: 92 m
“For a Lost Soldier” é mais do que uma simples história aparentemente pedófila, e se reconhecida como tal, poderemos então indubitávelmente, dizer tratar-se de uma verdadeira história pedófila, porquanto, é fruto das recordações que uma criança conservou durante toda a sua vida e que mais tarde levou-a a escrever um livro. É natural que quem tenha visto ou conheça o filme pense tratar-se apenas disso, um argumento, contudo esconde mais que isso: encobre uma história, a de Rudi van Dantzig, bailarino e coreógrafo de Ballet, o qual escreveu, a pedido, três peças para aquele que considero o maior bailarino de sempre, Rudolf Nureyev.
Além da sua carreira como coreógrafo, desenvolveu uma vertente literária e fez sua estreia em 1986 com o romance autobiográfico que deu origem ao filme agora apresentado. O livro foi filmado e traduzido em Inglês e Alemão, tendo sido na Holanda reimpresso dezasseis vezes, após o qual escreveu um livro com as suas memórias de Nureyev e mais uns tantos contos e romances.
Se é verdade que o relacionamento entre duas pessoas com considerável diferença etária é visto como um desvio comportamental sexual ou social, quando envolve um menor tende mesmo a ser encarada como pecaminosa, senão mesmo como criminosa, ou onde o factor “amor” é completamente expurgado como motivador dessa mesma relação. Talvez este filme, autobiográfico, mostre o outro lado que esquecemos ser possível e que os tabus teimam em não aceitar. Poderemos ser lavados a pensar até que ponto pode essa relação ter influenciado a vida do autor e se a ausência desse momento na sua infância poderia tê-lo levado a uma vida diferente, mas seja como for, é o próprio aceitar o quanto esse episódio foi importante para a sua vida, começando o filme precisamente, em jeito de flashback, com Rudi Dantzig (Jeroen no filme) a recordar com nostalgia esse passado com bastante ternura, o que aliás se reflecte na forma como descreve os acontecimentos, procurando nessas mesmas recordações ultrapassar uma crise de inspiração como coreógrafo.
E se me prolonguei nesta história que se esconde por detrás do filme é porque não é de somenos importância para o entendimento ou mesmo enriquecimento do filme, visto ser aquela história que poucos chegam a conhecer.
È um filme que se recusa a carregar para a história uma bagagem psicológica e social contemporânea escusando-se a qualquer menção depreciativa da homossexualidade, limitando-se a demonstrar que o amor pode ser um misterioso designo tão puro quanto aquele que encontramos no Du Er Ikke Alene (ver noutro post este filme), um outro filme que enfrentou fortes censuras e proibições em lugares mais conservadores, e em Portugal, obviamente, jamais exibido. Possívelmente o filme sobejamente mais conhecido que retrate uma relação entre um adulto e uma criança seja o “Morte em Veneza” mas nada ou pouco terá em comum com este e muito menos com o livro de Thomas Mann que inspirou este último filme referido.
Por fim resta dizer que a história do filme (e do livro), lembrada através dos olhos do jovem Jeroen (Maarten Smit), um jovem introspectivo loiro de 13 anos, passa-se no final da 2ª Guerra Mundial, sendo Jeroen enviado pela sua mãe para uma quinta no interior dirigida por um homem austero e religioso. Com a chegada dos aliados ao país, Jeroen desenvolve uma amizade íntima e intensa com o soldado canadense Walt. Surge então entre os dois uma relação afectuosa e íntima além do imaginado, servindo de palco este cenário para o desenrolar da descoberta da sua própria sexualidade e aprendizagem sobre o amor de uma forma inusual.
Deixo-vos aqui o trailer que considero mais bem conseguido do filme, assim como a possibilidade de o obterem pela internet.