quarta-feira, 13 de julho de 2011

PARA UM SOLDADO PERDIDO

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  • VOOR EEN VERLOREN SOLDAAT
  • Realizador: Roeland Kerbosch
  • Ano: 1992
  • Pais: Holanda
  • Duração: 92 m

For a Lost Soldier” é mais do que uma simples história aparentemente pedófila, e se reconhecida como tal,  poderemos então indubitávelmente, dizer tratar-se de uma verdadeira história pedófila, porquanto, é fruto das recordações que uma criança conservou durante toda a sua vida e que mais tarde levou-a a escrever um livro. É natural que quem tenha visto ou conheça o filme pense tratar-se apenas disso, um argumento, contudo esconde mais que isso: encobre uma história, a de Rudi van Dantzig, bailarino e coreógrafo de Ballet, o qual escreveu, a pedido, três peças para aquele que considero o maior bailarino de sempre, Rudolf Nureyev.

Além da sua carreira como coreógrafo, desenvolveu uma vertente literária e fez sua estreia em 1986 com o romance autobiográfico que deu origem ao filme agora apresentado. O livro foi filmado e traduzido em Inglês e Alemão, tendo sido na Holanda reimpresso dezasseis vezes, após o qual escreveu um livro com as suas memórias de Nureyev e mais uns tantos contos e romances.

Se é verdade que o relacionamento entre duas pessoas com considerável diferença etária é visto como um desvio comportamental sexual ou social, quando envolve um menor tende mesmo a ser encarada como pecaminosa, senão mesmo como criminosa, ou onde o factor “amor” é completamente expurgado como motivador dessa mesma relação. Talvez este filme, autobiográfico, mostre o outro lado que esquecemos ser possível e que os tabus teimam em não aceitar. Poderemos ser lavados a pensar até que ponto pode essa relação ter influenciado a vida do autor e se a ausência desse momento na sua infância poderia tê-lo levado a uma vida diferente, mas seja como for, é o próprio aceitar o quanto esse episódio foi importante para a sua vida, começando o filme precisamente, em jeito de flashback, com Rudi Dantzig (Jeroen no filme) a recordar com nostalgia esse passado com bastante ternura, o que aliás se reflecte na forma como descreve os acontecimentos, procurando nessas mesmas recordações ultrapassar uma crise de inspiração como coreógrafo.

E se me prolonguei nesta história que se esconde por detrás do filme é porque não é de somenos importância para o entendimento ou mesmo enriquecimento do filme, visto ser aquela história que poucos chegam a conhecer.

È um filme que se recusa a carregar para a história uma bagagem psicológica e social contemporânea escusando-se a qualquer menção depreciativa da homossexualidade, limitando-se a demonstrar que o amor pode ser um misterioso designo tão puro quanto aquele que encontramos no Du Er Ikke Alene (ver noutro post este filme), um outro filme que enfrentou fortes censuras e proibições em lugares mais conservadores, e em Portugal, obviamente, jamais exibido.  Possívelmente o filme sobejamente mais conhecido que retrate uma relação entre um adulto e uma criança seja o “Morte em Veneza” mas nada ou pouco terá em comum com este e muito menos com o livro de Thomas Mann que inspirou este último filme referido.

Por fim resta dizer que a história do filme (e do livro), lembrada através dos olhos do jovem Jeroen (Maarten Smit), um jovem introspectivo loiro de 13 anos, passa-se no final da 2ª Guerra Mundial, sendo Jeroen enviado pela sua mãe para uma quinta no interior dirigida por um homem austero e religioso. Com a chegada dos aliados ao país, Jeroen desenvolve uma amizade íntima e intensa com o soldado canadense Walt. Surge então entre os dois uma relação afectuosa e íntima além do imaginado, servindo de palco este cenário para o desenrolar da descoberta da sua própria sexualidade e aprendizagem sobre o amor de uma forma inusual.

Deixo-vos aqui o trailer que considero mais bem conseguido do filme, assim como a possibilidade de o obterem pela internet.

TRAILER

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terça-feira, 12 de julho de 2011

ORAÇÕES PARA BOBBY

PRAYERS FOR BOBBY

Realizador: Russell Mulcahv

Ano: 2009
Pais: EUA
Duração: 1:25 m

O recente caso mediático do violinista Tyler Clementi da Universidade Rutgers, um caloiro que cometeu suicídio após ter visto um relacionamento seu com outro homem, filmado com uma câmara oculta, colocado ao vivo na internet, é um dos muitos casos que tem terminado da pior forma no que respeita a abordagem da homossexualidade nos dias de hoje por parte da sociedade, quer descriminando-a, não aceitando-a ou mesmo hostilizando quem a pratica. Este filme é um desses casos.

Quem já tenha visto o filme “Latter Days”, a história de um jovem mórmon com tendências homossexuais obrigado a lidar com as suas convicções religiosas e com o que de facto sente em relação à sua sexualidade, encontrará neste “Orações para Bobby” alguns temas em comum, todavia explorados de forma intensamente dramática que não perdoam algumas lágrimas a quem o veja. Aliás já o mesmo acontecia com o “Latter Days”, mas sem os convencionalismos dos “Beautiful Boys” que persistem nos filmes mais actuais e que de certa forma retiram a primazia do argumento em função de mercantilismo de corpos que só por si permitem garantir a sua colocação no mercado cinematográfico, não obstante o “Latter Days” ser um filme bem conseguido e contar com a tímida presença do actor Joseph Gordon-Levitt do fabuloso filme “Mysterious Skin”. Também com o filme “Rock Haven” tem algumas semelhanças no que diz respeito às questões religiosas mas distancia-se bastante quanto à qualidade do argumento. “Orações a Bobby” é um filme bastante cru, duro e hipernaturalista, não só quanto à fotografia do filme, mas também quanto aos sentimentos que o realizador conseguiu despoletar nos actores.

Baseado numa história verídica e partindo do livro do jornalista Leroy Aarons, fundador do “National Lesbian and Gay Journalists Association”, conta com um surpreendente desempenho da parte da actriz Sigourney Weaver e pelo qual foi premiada. Não se trata de um filme com um final feliz, mas mostra que depois de um final infeliz pode haver um recomeço, mesmo que ele seja duro, angustiado e cheio de culpas nas questões sociais e religiosas quanto à homossexualidade.

Não me querendo alongar muito no texto, e já que referi alguns pontos comuns entre filmes, não resisto a partilhar mais um que pode constituir-se como um momento de reflexão: A atracção que o mundo homossexual, ou os realizadores, nutrem por pontes, associando-as amiúde das vezes a momentos trágicos ou de pura introspecção ou catarse. Quem já tenha visto o L.I.E de Michael Cuesta, não deixará de associar neste filme, ambas as cenas que se passam numa ponte. Poderá existir algum sentido metafórico cinematográfico na eleição deste elemento, ou constituirá mesmo uma expressão do foro psicológico relacionado com a condição do homossexual que tenta construir, por assim dizer, uma "ponte" entre o seu mundo secreto e o real, tão notório neste filme que agora apresentamos?
Um filme a não perder e se ainda tem dúvidas quanto a isso convido o leitor a ver o primeiro minuto do filme, onde à semelhança do “Priscilla - A Rainha do Deserto” a canção profetiza um grande filme.